terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
CAPOEIRA: de arte negra a esporte branco
CAPOEIRA: de arte negra a esporte branco
ALEJANDRO FRIGERIO
Introdução
A Capoeira,
chamada hoje de "o esporte brasileiro", ou "a arte marcial
brasileira", é, na realidade, uma rica expressão artística (mistura de
luta e dança) que faz parte do patrimônio cultural afro-brasileiro. Depois de
sofrer duras perseguições, chega ao Brasil, na primeira metade do nosso século, sob a
forma de Capoeira Angola. É a partir desta forma inicial que o famoso Mestre
Bimba cria outra variante, a chamada Capoeira Regional, forma que hoje se expande
por todo o Brasil, chegando até a outros países.
O presente trabalho propõe oito características que, de acordo com o nosso
critério, definem a Capoeira tradicional (Angola) como uma forma artística
única, criação afro-brasileira que reflete fielmente as pautas do grupo étnico do
qual surge. Como chega até nós, tem aspectos de dança, luta, jogo, música,
ritual e mímica A conjunção de todos esses elementos gera um produto que não
pode ser classificado atendendo apenas a uma única dessas facetas, sob pena de
perder sua originalidade como arte.
Com base nessas características, apresentaremos um rápido panorama do
desenvolvimento histórico dessa arte, desde a terceira década do século até nossos dias.
A partir
do surgimento da Capoeira Regional, descreveremos as transformações que se vão
produzindo - tanto nas práticas como na própria
concepção do que é a Capoeira, à medida que esta se expande para outros grupos
sociais e horizontes geográficos. Essas transformações, segundo acreditamos,
não escapam à influência da peculiar estruturação de classes da sociedade
brasileira e, neste sentido, são comparáveis às que sofreram a religião
afro-brasileira com o surgimento da Umbanda.
Essas duas expressões da cultura popular negra, a religião e esse
singular jogo/luta/dança, para serem legitimadas e integradas ao sistema,
precisam perder várias das características que lhes são próprias, em virtude de
sua origem étnica, para adquirirem outros traços que as tornem mais aceitáveis
aos olhos das classes dominantes. Podemos então interpretar o aparecimento da
Capoeira Regional como um "embranquecimento" da Capoeira tradicional
(Angola), seguindo um esquema semelhante ao proposto por Ortiz (1978) para a
Umbanda.
Nossa análise baseia-se principalmente em observações feitas em 1983,
1985, 1986 e 1987 (um total de oito meses) nas academias de Capoeira Angola mais importantes
da Bahia e em visitas a academias de Capoeira Regional na Bahia, São Paulo,
Belo Horizonte, Los Angeles, São Francisco, Nova Iorque e Buenos Aires (1).
Estas observações são
complementadas com a bibliografia relativa ao assunto e com nosso
aprendizado de Capoeira Angola com o Mestre João Pequeno, na Bahia, nos anos
citados, e de Capoeira Regional, desde 1982, principalmente nos Estados Unidos
e em Buenos Aires (2).
A Capoeira como arte
As oito características
que, segundo nossa maneira de ver, diferenciam a Capoeira Angola e a definem
como arte são as seguintes:
1) Malícia: Quase todos os autores (e praticantes) são
unânimes em admitir que este é um dos "fundamentos" da Capoeira - a
habilidade de surpreender o adversário, de "fechar-se" e evitar ser
apanhado de surpresa pelo outro. O bom capoeirista está sempre
"fechado" e sabe que a qualquer movimento seu corresponderá um
equivalente do adversário, exigindo que esteja preparado até para os mais
inesperados.
A picardia no jogo é admirada (e desfrutada) pelo público e pelo próprio
adversário. O "angoleiro" distrai seu rival, brinca com ele,
engana-o, mostrando-se desprotegido, para ser atacado justamente onde deseja e, assim, lançar seu
contra-ataque com mais eficácia.
2) Complementação:
Os dois jogadores ficam atentos aos movimentos um do outro e sempre se deslocam, atacam ou se defendem em função do que fizer o adversário, ou para provocar determinado movimento deste. Joga-se sempre perto do rival e respondendo a seus movimentos
através de ataques, defesas e contra-ataques.
Os capoeiristas não devem entrar em choque direto, porque assim a
harmonia do jogo será rompida. É preciso contribuir para criar essa harmonia
desenvolvendo o próprio jogo, mas deixando que o adversário possa fazer o seu
próprio É preciso jogar e deixar jogar.
3) Jogo baixo: O jogo de Angola tem movimentos predominantemente
(mas não apenas) baixos. Isto significa que, embora grande parte dos movimentos
requeira que ambas as mãos estejam apoiadas no chão, as pernadas são, em geral,
de pouca altura, e as posições de guarda (com as quais se espera o movimento do
rival e se prepara o próprio) exigem que as pernas estejam flexionadas e o tronco e a cintura a
baixa altura.
Ao contrário do estereótipo, Angola também se joga de pé, mas as
pernadas são baixas. Embora predomine o jogo a baixa altura, os movimentos de pé e em
posições intermediárias (que permitem passar de um plano alto para outro,
baixo) têm importância quase equivalente, já que esta alternância possibilita
maior quantidade de movimentos e dá uma dinâmica especial ao jogo.
4) Ausência de violência: Na Capoeira Angola, os jogos, em geral;
são exatamente isso - jogos. Pretende-se, sim, atingir o adversário com
alguns golpes, evitar que ele nos alcance, mas na Angola bem feita, jogada por
mestres e alunos adiantados, a luta (no sentido de atingir o adversário) está
sempre inseparavelmente misturada com o jogo. Esta paródia de um combate traz
prazer, diverte tanto os que jogam como os que observam. Isto se verifica nos
corpos descontraídos e nos rostos sorridentes dos jogadores, e no prazer desfrutado por
quem observa. Freqüentemente, quem é (apesar de todos os esforços em contrário)
atingido por algum golpe sorri e se diverte com essa picardia de seu
adversário, que conseguiu penetrar suas defesas. Certa vez, Canjiquinha, um dos
mestres da velha guarda baiana, como comentário apreciativo sobre um dos melhores
angoleiros da nova geração, declarou: "Ele joga rindo o tempo todo".
Esta atitude descontraída também é observada na duração dos jogos, muito mais
longos do que os da Regional.
Apesar disso, não se deve incorrer no equívoco freqüente de considerar a
Capoeira Angola apenas um jogo. É um jogo sim, mas apenas a partir do momento
em que ambos os jogadores, respeitando a tradição, decidem divertir-se dentro
de uma roda. A violação deste acordo tácito por algum dos adversários pode
fazer com que o jogo se transforme em luta. Citando o Mestre João Pequeno, o
mais antigo angoleiro dos que ainda ensinam esta arte: "A Capoeira é
brincadeira, a Capoeira é festa, é alegria mas, na hora exata, ela é
defesa".
Sem os golpes espetaculares da Capoeira Regional, o angoleiro desde o
início aprende a fechar-se, a não deixar resquícios de seus movimentos e a
atacar no momento certo. Um bom angoleiro é muito difícil de agarrar e
aproveitará a mínima falha ou vacilação de seu adversário para atingi-lo.
5) Movimentos bonitos: Este é um dos elementos mais importantes
da Capoeira Angola, e dos menos entendidos. Nesta mistura indissolúvel de luta
e jogo, o elemento estético adquire grande importância. Mas é uma estética
própria, que surge de um contexto étnico determinado (o afro-brasileiro) e que,
por isso, não é bem compreendido e se transforma rapidamente (para não dizer se
perde) quando essa forma artística se desloca para outros segmentos sociais que
não a compartilham.
Essa característica se soma às anteriores, e, embora o angoleiro procure
fazer movimentos bonitos, por causa da importância da malícia, da
complementação e união de jogo e luta, nunca, ou quase nunca, os fará pela
beleza em si. Os movimentos, embora sempre bonitos, servem como defesa para o
deslocamento ou, ainda, para o ataque, e são respostas a movimentos dos adversários. É
difícil ver um angoleiro ficar desprotegido por fazer um movimento belo. Ele o
fará, mas de forma tal a ficar protegido ou a levar seu adversário a pensar que
está. Aí inventará um contra-ataque fulminante. Tampouco interromperán o fluir
do jogo para fazer alguma pirueta que não seja exigida.
É importante a idéia de uma estética própria, porque este é um dos
aspectos da Capoeira que mais está se perdendo com a incorporação de elementos
e modelos provenientes das artes marciais e/ou da ginástica esportiva. Assim,
se a técnica da Capoeira Regional requer ou enfatiza os movimentos altos,
retos, estilizados, a beleza particular da Capoeira Angola reside em movimentos
encolhidos, fechados, para dar pouco espaço ao adversário, mas com um perfeito
controle do corpo, para desarmá-los ou transformá-los segundo o momento o
exija. A expressão do rosto, a gestualidade das mãos e braços, a ginga mais
dançada e, freqüentemente, quase substituída por passos do bailado de outras
manifestações negras, a cadência geral dos movimentos - tudo isso é parte
importante dessa estética (quase impossível de descrever adequadamente por
escrito), que reflete fielmente sua origem social e cultural.
6 ) Música lenta: A Capoeira Angola é cadenciada e se realiza com
um ritmo lento, em comparação com o de outras variantes. É um jogo de domínio
do corpo, mas também da mente. Num bom aprendizado, os movimentos de um jogo
são esmiuçados e as várias possibilidades de ação estudadas, como num jogo de
xadrez. A descontração do corpo e os movimentos lentos permitem que os jogos de
Angola sejam muito mais demorados que os da Regional.
7) Importância do ritual: A Capoeira é um jogo com regras não
escritas mas que, assim mesmo, estão presentes e regem seu desenrolar. No caso
da Angola, o conhecimento dessas regras (que regem um número de aspectos muito
mais diversificado do que em outras variantes) é muito importante. Não se pode
ser bom angoleiro quando não se sabe direito quando sair do pé do berimbau, que
gestos invocando proteção se realizam antes disso, ou como se faz adequadamente
uma "pedida de aú". A infração a estas regras provocará gestos de
desaprovação entre os assistentes, ou o infrator será ridicularizado. Como no
Candomblé, no qual saber que cantiga cantar no momento adequado demonstra
conhecimento, "estar por dentro" desta manifestação da cultura
popular, assim também acontece com a Capoeira. A correta apreciação do que está
acontecendo num jogo e de como atuar com relação a isto também é motivo de
orgulho e prestígio dentro do grupo.
8) Teatralidade: Este é outro aspecto geralmente relegado quando
se fala de Capoeira. Na prática, cada vez mais é deixado de lado como coisa do
passado, próprio da Capoeira classificada como "folclore".
No
entanto, as expressões do rosto, os movimentos das mãos, fingindo medo,
distração, alegria, convidando o adversário a jogar ou
distraindo sua atenção; a maneira como certas canções são gestualizadas; tudo isso
faz parte da essência da Capoeira Angola.
Assim, desde antes do início do jogo propriamente dito, ao pé do
berimbau, um dos jogadores pode cantar uma ladainha, expressando sua posição
com relação ao mundo, da roda ou de seu adversário. Se este não responde com
outra, alusiva à sua mensagem, então se passará ao canto de entrada, durante o
qual se fará sinais com gestos em direção ao alto (ao cantar "Viva meu
Deus”), ao mestre ("Viva meu Mestre"), ao adversário ("é
mandingueiro", ou "sabe jogar"), para os lados ("joga aqui
pra cá") ou em torno ("pelo mundo afora"). Em seguida, o rival
será convidado a sair e começará o jogo propriamente dito. Ao começar o canto
de entrada, também podem ser feitos gestos que invocam a proteção divina (sinal
da cruz, traçar o signo de Salomão - estrela de seis pontas - no chão, juntar as mãos,
olhando para o alto) para o jogo que se realizará. Dá-se a mão ao adversário e
este é convidado (ao terminar o canto de entrada e começarem as cantigas) a
jogar. Isto não é feito necessariamente sempre assim, mas se a intenção é jogar
como se deve, serão respeitadas várias dessas formas.
Em seguida, durante o jogo, as expressões do rosto, os gestos das mãos,
convidam o oponente a jogar, distraem sua atenção, fingem medo e surpresa ante
os movimentos dele, alegria ante o prazer de jogar. Um golpe recebido, através
da "dramatização" adequada, pode ser incorporado ao fluir do jogo e
demonstrará que quem o recebeu o fez com picardia, com o
verdadeiro espírito de um angoleiro, que sabe que coisas assim acontecem
na vida e as aceita como algo natural. Esta dramatização do fato pode também
servir como disfarce para o próximo golpe que se lançará.
A Capoeira tradicional é como um "teatro mágico", como bem a define Nestor Capoeira
(1985, p109): uma "escola para a vida" que, reproduzindo
metaforicamente as situações que o jogador pode encontrar na realidade,
prepara-o para melhor encará-las.
Dessa teatralização também podem participar todos os que assistem à
roda, não apenas quem joga naquele momento. Como os cantos podem ser iniciados
por qualquer um dos participantes, às vezes, através destes, será feita referência (em
geral brincalhona) ao que está acontecendo dentro da roda.
Essas oito qualidades, segundo acreditamos, são as que
caracterizam a Capoeira Angola atual. São, portanto, também, representativas de
como era a Capoeira existente antes de se criar o estilo da Capoeira Regional.
Embora a Capoeira Angola também tenha se modificado com a passagem do tempo,
conversas com velhos mestres e o jogo de quem, com 60 anos ou mais, ainda a pratica nos dão a
demonstração de que a Angola atual conserva muito da tradicional.
A Capoeira é, insistimos, uma forma artística complexa, um jogo-luta,
uma dança-ritual-teatro, fruto da criação coletiva de um grupo social
determinado - no caso, as camadas populares negras do Brasil. Como tal, deve refletir as
características mais gerais do grupo do qual surge. Isto se vê claramente na
ênfase que se dá, na Capoeira, à malícia e à picardia.
Estar sempre atento, para aproveitar a menor oportunidade e tirar
vantagem (e evitar ser vítima disso), são traços próprios de quem deve
esmerar-se na arte de sobreviver com os magros recursos a seu alcance, traços
que se observam ainda hoje nas atitudes cotidianas dos setores populares
baianos. A picardia se expressa tanto no samba como na Capoeira, na conquista
de uma mulher como nos brincalhões duelos verbais, tão peculiares a este setor.
É um estilo étnico próprio (Kochman, 1981) que se reflete nas diversas
modalidades da cultura grupal.
O que acontece quando uma arte que reflete as características culturais
de um grupo começa a estender-se para fora dele, chegando a outras camadas sociais e a
diversos contextos geográficos? Tem; forçosamente, de mudar. Mas a mudança,
embora inevitável, quando se trata de qualquer manifestação social e cultural
(para uma crítica pormenorizada das visões estáticas de outros aspectos da
cultura afro-brasileira, neste caso o Candomblé, ver Frigerio, 1983), também
vai expressar as assimétricas relações de poder existentes na sociedade.
Quem tem maior poder econômico e social poderá com maior facilidade influir no
processo de mudança, impondo seus valores e visões de mundo.
Ainda
considerando os fatores sociais como condicionadores de todo o processo de
mudança, ao analisar a transformação da Capoeira não se pode perder de vista a
influência que um homem teve sobre esse processo.
Idolatrado pelos praticantes da Capoeira Regional, menosprezado ou ignorado
pelos angoleiros, toda a evolução posterior da arte tem como ponto
de referência inevitável o Mestre Bimba.
A Capoeira como luta
Todos os
autores que já escreveram sobre Capoeira (Rego, 1968; Moura, 1980; Almeida,
1981 e 1986; Capoeira, 1981 e 1985; Areias, 1983), ao falarem de Mestre Bimba,
são unânimes em afirmar que:
1)
1) Bimba era um capoeirista consumado, praticante de Angola (única variante
existente na época).
2) Achando que essa modalidade deixava "muito a desejar em termos
de luta" (Itapoan, 1982, p. 14), criou um novo estilo, que chamou de
"Luta Regional Baiana" (Rego, 1968, p. 269) e que logo passaria a ser
conhecido como Capoeira Regional.
3) Foi o primeiro Mestre a abrir uma escola (academia) de Capoeira, em
1932. Seu "Centro de Cultura Física e Capoeira Regional" foi também a
primeira escola de Capoeira reconhecida oficialmente pelo governo, em 1937.
4) Acredita-se, também, que ele foi o primeiro Mestre a desenvolver uma metodologia
de ensino. Os alunos aprendiam um determinado número de lições e distinguiam-se
três níveis de praticantes: “iniciantes”, "formados" e "formados
especializados" (Capoeira, 1985, p. 95). Introduziu, ainda, suas oito
famosas "seqüências", combinações programadas de ataque e defesa
praticadas, todas elas, por seus alunos, que, ainda hoje, utilizam amplamente seus ensinamentos
5) Outra
característica peculiar a sua escola, e que terá importantes conseqüências para
o futuro desenvolvimento da
Capoeira, é que um setor
majoritário (ou pelo
menos importante, já que não há estimativas exatas) de seus alunos pertencia à
classe média e alta baiana: "seus discípulos variam desde o homem do povo
até políticos, ex-chefes de Estado, doutores, artistas e intelectuais"
(Rego, 1968, p. 283). Segundo Mestre Acordeon, ex-aluno seu, "a
maior-parte dos capoeiristas de Mestre Bimba estudava em
colégios e universidades" (Almeida, 1981, p.45).
Esse fato traz conseqüências diversas. Segundo a maioria dos autores (Rego,
1968, p. 361; Areias, 1983, p. 68; Capoeira, 1985, p. 111; Almeida, 1981, p.
40), é graças a isso que a Capoeira começa a ganhar mais aceitação social,
deixando de ser considerada como algo praticado por desqualificados marginais e passando a ser vista como
uma manifestação cultural do povo baiano. Em 1937 (Areias, 1983, p. 67), a
escola de Bimba, primeiro grupo de Capoeira a realizar uma apresentação no
palácio do governo baiano, é reconhecida oficialmente. Com o passar dos anos, o
Mestre realiza várias apresentações perante diversas autoridades, e em 1953
apresenta-se para o Presidente Getúlio Vargas.
Outras conseqüências da irrupção de jovens dos setores acomodados
baianos na prática da Capoeira são menos positivas. Segundo Areias (1983, p.
69), o fato de que a academia era freqüentada por membros da burguesia acarreta
uma alienação com relação ao meio que deu origem à arte (algo parecido, embora
sem precisar exatamente a escola, sugere Rego, 1968, p. 290), já que "uma
das medidas adotadas (...) foi a de aceitar apenas alunos que tivessem carteira
profissional assinada, ou que fossem estudantes ou tivessem alguma outra
ocupação reconhecida (...)" (Areias, 1983, p. 69), para evitar a afluência
de "maus elementos". Com a mesma finalidade, "era proibido ao
aluno freqüentar e participar das rodas de Capoeira Angola e das rodas de
rua" (Areias, 1983, p. 69). Segundo Mestre Gato, capoeirista antigo:
"Formou-se
um grupo de alunos brancos em torno de Bimba que, de certa maneira, até
mandavam. Bimba, apesar de ser um homem excepcional, era ignorante. A verdade é
que os negros tinham muito poucas oportunidades de ir para a academia
de Bimba aprender Regional. Não estou dizendo que não havia negros praticando
Regional, mas, mas para seis negros, havia seiscentos brancos, enquanto em
Angola 80% eram negros" (Capoeira,
1985, p. 162).
Com Bimba,
então, a Capoeira começa a sofrer uma transformação acelerada. Com ele, deixa
de ser brincadeira, vadiação, para ser uma luta propriamente dita. Bimba era um
temível lutador e talvez fosse sua fama que atraísse os jovens da burguesia.
A Capoeira de Bimba elimina ou reduz a ênfase nos efeitos cerimoniais,
rituais e lúdicos da Capoeira Angola e incorpora novos elementos de luta que, até aquele momento,
eram-lhe estranhos: agarramentos, defesas contra estes e certos golpes novos.
Não se sabe ao certo a origem desses novos movimentos. Segundo o que próprio
Bimba disse a Rego (1968, p. 33), ele "se valeu de golpes de batuque (..)
assim como de detalhes da coreografia do maculelê (...) além dos golpes da luta
greco-romana, jiu-jitsu, judô e savate (...)". A influência do batuque
chegara até ele através de seu pai, consumado praticante dessa arte popular. A
verdadeira influência das lutas orientais e européias na Regional de Bimba é
objeto de discussão: Carneiro (1975, p. 14) a enfatiza; seus ex-alunos a negam
(Itapoan, 1982) ou minimizam (Almeida, 1981, p. 42); outros autores, como Rego
(1968, p. 269) ou Areias (1985, pp. 67 e 70), registram-na, mas não a destacam.
O certo é
que, a partir de Bimba, na década
de 30, a Capoeira sofre uma grande transformação. Enfatizam-se os aspectos de
luta, são acrescentados novos movimentos, aparece um grupo importante de
praticantes das classes médias e altas e a Capoeira começa a ser praticada
dentro da legalidade.
A Capoeira como "folclore".
Começa, assim,
o que poderíamos denominar de processo de legitimação social da Capoeira, já
que ela não é mais considerada uma prática de marginais, mas começa a ser
valorizada como luta e também como uma tradição cultural baiana.
Começa, também, no entanto, junto com a legitimação, o processo de
descaracterização (para usar um vocábulo popular entre os angoleiros) da
Capoeira. Sua prática diminui no ambiente que lhe deu origem, a rua e as festas
de largo, para evitar associações com o meio popular, com seu passado turvo, e
passa-se a praticá-la em recintos fechados, escolas que servem como meio de
vida para os mestres.
Um dos
fatores que mais contribuem para sua descaracterização é (Rego, 1968, p. 361) o
próprio órgão municipal de turismo da Bahia. Este programa freqüentes
apresentações para turistas, e as academias começam a
disputar entre os favores da entidade, acrescentando ingredientes diferentes
(samba de roda, pilhérias etc.) a suas apresentações, a fim de torná-las mais
agradáveis para o turista.
Assim a Capoeira se "folcloriza". Em vez de se impor como uma
manifestação cultural popular, com características próprias, apresenta-se uma
imagem adulterada da mesma, procurando o que mais impressione e agrade o
turista.
A capoeira como
esporte
Na década de
60, a Bahia continuava sendo o centro nevrálgico da Capoeira. Mas, por essa
época, muitos Mestres, atraídos pelas possibilidades econômicas do Sul,
começaram a emigrar para o Rio de Janeiro e São Paulo. A Capoeira, aos poucos,
espalhava-se pelo Brasil inteiro.
Fora de seu contexto geográfico e social, distante de suas raízes negras
e baianas, a Capoeira já não pode ser praticada como uma manifestação artística
espontânea, e tampouco estereotipada como folclore. Também não pode ser uma
luta ao estilo de Bimba, que desafiava "qualquer lutador, de qualquer
luta, a enfrentá-lo com sua Regional" (Itapoan, 1982, p. 16) e que
treinava esquivando-se de pedras jogadas por seus alunos e de navalhas suspensas por
um fio (Itapoan, 1982, p 39).
Começa então a ganhar popularidade a idéia de que, devidamente
regulamentada, a Capoeira poderia ganhar um lugar junto às artes marciais
orientais, já aceitas pela sociedade brasileira. Passaria, assim, a ser "a
arte marcial brasileira", uma luta esportiva com competições
regulamentadas.
Surgem, assim, em fins da década de sessenta, os primeiros campeonatos e
tentativas de regulamentação da Capoeira. Em 1968 e 1969, realizam-se, numa
base da Força Aérea, no Rio de Janeiro, o primeiro e o segundo simpósios
brasileiros de Capoeira. Neles, tentou-se "criar uma única nomenclatura
para os golpes, um único sistema de graduação de alunos, critérios para
graduação de Mestres, tudo com a intenção de fundar federações de Capoeira
(...) e transformá-la no ‘esporte nacional’” (Capoeira, 1985, p. 132). Naquela
mesma época, realizam-se na Bahia os primeiros campeonatos de Capoeira.
Em 1972, a Capoeira é declarada "esporte" pelo Conselho
Nacional de Desportos, e sua prática, como tal, é regulamentada oficialmente,
através da Confederação brasileira de Pugilismo. Em 1974, é criada a primeira
Federação de Capoeira em São Paulo, e em 1984, a segunda, no Rio de Janeiro.
Falta ainda surgir outra, num terceiro estado, para que se possa criar a
Confederação Nacional de Capoeira, livrando-a da tutela do pugilismo. Em meados
da década de 70 realizam-se também os primeiros campeonatos nacionais de Capoeira.
Esse desenvolvimento da Capoeira/esporte acarreta várias conseqüências
para a prática e a concepção vigente quanto a esta atividade. Entre elas,
destacamos:
1) Uma crescente burocratização: A Capoeira, para poder ser
considerada esporte, tem de ser competitiva e regulamentada (Capoeira, 1985, p.
147), tornando-se necessário, portanto, que existam associações, federações e
uma confederação que, agrupando-as, consagre um regulamento único para a
competição, o ensino da atividade e os critérios de graduação de Mestres. Tudo
isso conduz a uma burocratização crescente e a uma submissão do esporte/luta à
política oficial, já que as federações dependem, em última instância, do
Conselho Nacional de Desportos.
Os torneios, a regulamentação e as federações provocaram uma grande
controvérsia nos últimos 15 anos. Os torneios tiveram bastante aceitação, mas
não a organização de federações. Em grande parte, os capoeiristas não estão
filiados às duas existentes, por não estarem de acordo com o direito que elas se arrogam de deter o monopólio da fiscalização da prática. Como toda atividade de
origem popular, não codificada, existem diferentes concepções em torno do que
ela é e de como deve ser praticada e ensinada. Zelosos de sua individualidade
-que a tradição da própria arte fomenta -, os Mestres não querem ser
controlados por uma federação.
2) A
incorporação de elementos das artes marciais orientais: A capoeira é
definida globalmente como esporte mas, por suas características, é considerada
uma luta. O uso predominante das pernas faz com que, dentro das lutas/esportes,
seja equiparada às artes marciais orientais, mais do que ao boxe ou à luta greco-romana, por exemplo.
Assim, é considerada a "arte marcial brasileira". Esta definição é
vantajosa, já que apela não apenas para o nacionalismo mas também para a
legitimidade que s outras artes marciais conseguiram. Ao tomá-las como modelo
(consciente ou não) a ser imitado, a Capoeira incorpora elementos que as
caracterizam: o uniforme branco, a prática de pés descalços, o uso de cordões
para classificar diferentes etapas do aprendizado, a atitude séria e marcial
durante os treinos, a saudação ritual (em posição marcial) no início e no fim
da aula. Também foram acrescentados pontapés e golpes de mão que,
tradicionalmente, não existiam na Capoeira, modificou-se a execução de certos
golpes que já existiam, tornando-os "mais técnicos" (portanto, mais
parecidos com os do karatê), introduziram-se técnicas de "defesa
pessoal" e, às vezes, até são utilizadas "guardas" com nítida
influência oriental durante os jogos e práticas. Os torneios também parecem
estruturados dentro desse modelo, com quatro juízes, bandeiras para anunciar as
faltas de cada praticante etc. É mantido o uso do berimbau durante a
competição, mas com uma função meramente simbólica, já que parece não ter a
menor influência sobre o jogo (que já não é um jogo, mas sim uma luta, com
contato).
A “arte marcial brasileira”, então, para gozar do prestígio das outras
artes marciais mais bem-sucedidas, precisa ser cada vez menos brasileira,
perdendo suas características próprias e incorporando outras que lhe são
alheias. Influi também, neste processo, o fato de que os mais fervorosos
defensores da Capoeira/esporte são professores de educação física e/ou
especialistas em alguma arte marcial oriental. Este currículo e esta influência
são claramente observados numa recente publicação de difusão maciça sobre
Capoeira (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. II), apresentando várias
técnicas (especialmente pp. 14-24 e 50-65) que poderiam ter sido tiradas, foto
por foto, de um livro de karatê:
3) Uma
cooptação ideológica e política da arte pelo sistema: As raízes populares,
negras e contraculturais da Capoeira se perdem para dar lugar a uma Capoeira
que "é sinônimo de educação, cultura, civismo e saúde" (Pinatti e
Oliveira Silva, 1984, II: Regulamento de Competição, p. 3). Segundo esta visão,
a prática da Capoeira,
“além de diversão, relax para quem apratica, ajuda a
desenvolver o poder da vontade, a cultivar a cortesia, e patrocina a moderação
da linguagem, coopera com a formação do caráter (...) (Senna, 1980, p13).
Este apelo extremado ao civismo se vê complementado
por uma crescente intromissão do militar na prática do esporte/luta. Isto se
nota, por exemplo no uso compulsivo do uniforme (que deve estar “bem dobrado,
passado e limpo"); na postura marcial do "Salve"; na rígida
hierarquização que se impõe com o uso dos cordões; nas exaltações da ordem
máxima, disciplina rígida e respeito absoluto, a serem mantidos dentro fora do
Templo de Capoeira” (Senna, 1980, p.19, grifo nosso).
Há aspectos menos formais ou inocentes dentro dessa
intromissão do marcial na Capoeira: o desenvolvimeto da Capoeira/arte marcial
brasileira se produz durante os anos da última ditadura militar; as primeiras
tentativas de homogeneização das práticas
e regras (simpósios de 1968 e 1969) foram patrocinados pela Força Aérea; uma
das primeiras tentativas de regulamentação e sistematização de Capoeira provém
de um mestre que a ensina no
Colégio Militar. Dirigentes das federações também foram acusados de tentar
integrar a Capoeira (para conseguir alcançar sua legitimação e em troca de
dádivas diversas) à ideologia política da ditadura militar que dominou o Brasil
de 1964 a 1985 (Areias, 1983, p. 77; Capoeira, 1985, p. 155).
4)
Concepções evolucionistas subjacentes. Para certo setor dos praticantes, essa evolução da
Capoeira de luta "folclórica" a arte marcial/esporte, é uma evolução
natural, necessária: "Em todas as partes do globo, cada povo possui um
método mais ou menos elaborado de combater - autodefesa (...) que vai fazendo
evoluir o progresso da civilização (...) " ( Senna, 1980, p. 11).
Segundo
essa visão, a partir
dessa modalidade de luta popular, que se desenvolveu de forma empírica -
portanto considerada "inexata", "ingênua" -, chega-se ao
que muitas vezes é denominado de "Capoeira objetiva". Nesta,
supostamente, através do estudo dos movimentos e do conhecimento científico que
possuímos do corpo humano, seriam alcançados movimentos e técnicas com um grau
máximo de eficiência. O saber popular negro, "primitivo", deve assim
ser substituído pelo conhecimento "científico" (não esqueçamos de que
muitos dos novos Mestres são professores de
educação física) que possuem as classes médias, brancas.
"A
Capoeira é executada e praticada de forma empírica, intuitiva e perigosa. Seus participantes
não se dão conta de que, racionalizada e com um método adequado, muitos seriam
os resultados sociais, físicos e espirituais com que ela poderia contribuir decisivamente para a
formação do elemento humano (...) Alcancemos o caminho da codificação da
Capoeira como esporte e conseguiremos a posição a que chegaram todas as formas
naturais de defesa pessoal de vários povos, as chamadas Artes Marciais, que
passaram pelas mesmas fases de marginalização, lendas, crenças, fanatismo
etc." (Senna, 1980, p. 14).
Essa concepção evolucionista (e tacitamente racista) está graficamente
expressa em Capoeira: A Arte Marcial Brasileira, publicação de grande tiragem, escrita com a
assessoria de dirigentes da Federação Paulista de Capoeira. O primeiro volume
(Pinatti e Oliveira Silva,
1984, cap. I) consta de duas partes: Capoeira/Cultura e Capoeira/Esporte. Na
apresentação da primeira, aparecem quatro capoeiristas negros e o professor,
branco. Os capoeiristas negros ilustram aqui as formas como se entra no jogo
(as "regras" não escritas), os movimentos básicos e os
"movimentos em desuso" (que, parecem ignorá-lo, têm ainda plena
vigência nas academias Angola de Salvador). A segunda parte, Capoeira/Esporte,
está ilustrada por oito capoeiristas brancos, que mostram as formas de
aquecimento (contribuição da educação física) e os movimentos de cintura solta (agarramentos e quedas) desenvolvidos por Bimba. A mensagem é
muito clara: a Capoeira como cultura pertence aos negros (e aqui só entram os movimentos básicos, e
outros já em desuso) e a Capoeira como esporte (com técnicas mais complexas e
assessoria da educação física - o pré-aquecimento) pertence aos brancos.
Seguindo esta linha, o segundo volume (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. II)
desenvolve movimentos de ataque e defesa (luta) que são ilustrados por sete
capoeiristas brancos e um mulato (o professor). Desses oito capoeiristas, seis
são professores de educação física, confirmando a intromissão de uma disciplina
na outra.
Essa versão da passagem da Capoeira, de cultura
negra, para esporte branco é basicamente correta, faltando mencionar o fato de
que se realiza uma valoração ideológica: a Capoeira como cultura é igualada ao "folclore"
e este, estereotipado, como algo pitoresco, estático, do passado. Por isso se
pergunta, na mesma publicação: "Será que [a Capoeira] sobreviverá e se
massificará como manifestação exclusivamente folclórica? Quantas ‘academias’ de
folclore se conhecem?" (A. Ghiberti em Pinatti e Oliveira Silva, 1984,
cap. I, p. 65). A Capoeira, para estes autores, só pode sobreviver
regulamentada como esporte, ou seja, obedecendo às pautas da classe dominante.
Esta apreciação é mascarada como algo necessário, que está "na natureza das
coisas".
Tendências atuais da Capoeira.
Qual a influência desse desenvolvimento da Capoeira esporte/arte marcial
sobre os elementos que, segundo propusemos no início deste trabalho,
caracterizam a Capoeira como arte original?
1) Malícia: Este é um dos
aspectos que a Capoeira atual mais perdeu. Quanto a isto, os velhos Mestres, na
maioria, são unânimes (Capoeira, 1985, pp. 166-8) em ressaltar que, agora, a
ênfase recai na velocidade, na força e nos movimentos acrobáticos, em
detrimento da burla e da picardia. Somente depois de vários anos de prática, e
de acúmulo de experiência, é que os capoeiristas que praticam esta modalidade
adquirem algo da malícia. Nas academias de Angola existentes, os alunos
desenvolvem esta qualidade desde o princípio.
2) Complementação: A sincronização, o fluir do jogo e o estímulo-resposta da Capoeira
tradicional tampouco são enfatizados nos jogos. A tendência é jogar mais
afastado, seja por causa da maior rapidez dos movimentos, e pelo fato de estes
serem mais espetaculares, seja pela crescente introdução de movimentos
acrobáticos no jogo. Já estes, embora lhe proporcionem a característica de ser
um jogo muito vistoso, quebram totalmente a complementação, já que, em geral,
não são feitos como resposta a um movimento do adversário, mas sim para o
próprio brilho. Na forma mais extremada, encontramos dois praticantes que
exibem juntos, mas individualmente, sua destreza física, em vez de jogarem um
com o outro.
3) Jogo baixo: Embora não se possa falar, atualmente, de jogo baixo
propriamente dito, sem dúvida existe algo que ainda caracteriza e diferencia a
Capoeira de outras artes marciais - o uso freqüente de ataques e defesas
realizados abaixando-se até o chão.
Provavelmente, no entanto (e sem querer), a maior
"descaracterização" (para empregar o termo popular entre os
angoleiros baianos) da Capoeira tradicional se dá, justamente, quando
praticantes claramente acostumados com a Regional fazem jogos de Angola -
fazem-no respondendo ao estereótipo vigente de que o jogo de Angola é algo
lindo, porém "passado", sem vigência ou valor como luta, e também sem
saber como este jogo realmente é. Jogam lento, mas todo o tempo abaixados
(ignorando, como dissemos no início, que Angola utiliza movimentos de pé e em
posições intermediárias), e o que fazem, basicamente, são movimentos de
destreza física próximos do chão, sem buscar maior complementação com o
adversário ou considerar que, na realidade, deveriam também estar lutando. De
modo geral, quando há roda, começa-se com o jogo de Angola, lento, "um
jogo" (ou seja, sem maior importância), e logo se passa para a Capoeira
"a sério", a Regional.
4) Ausência de violência: A ênfase na luta e a Capoeira identificada exclusivamente como arte
marcial, em detrimento dos outros aspectos, faz com que a violência esteja cada
vez mais presente nos jogos. Já não se joga "com" um adversário, mas
"contra" ele.
5) Movimentos bonitos: A estética continua sendo importante e prossegue a busca de beleza nos
movimentos, mas a concepção de beleza que se tem é totalmente diferente. A
beleza que se busca nos movimentos corresponde, como dissemos no início deste
trabalho, a uma estética diferente. O modelo a imitar, com as pernadas, é o das
artes marciais orientais e, no aspecto acrobático, o da ginástica esportiva.
Há, além disso, uma ênfase nos movimentos bonitos
pela beleza em si, desprovidos de qualquer intenção de deslocamento, ataque ou
defesa. Isto não acontece com a Capoeira Angola, na qual todos os movimentos,
por mais que se pretenda torná-los bonitos, têm um objetivo. A pirueta bonita,
mas sem outro propósito que não seja o visual, ajuda a quebrar a complementação
do jogo.
6) Música lenta: Utilizam-se
(ou deveriam ser utilizados, já
que isto nem sempre é respeiado) diferentes ritmos para diferentes tipos de
jogo. A Regional, no entanto, caracteriza-se por seus ritmos rápidos.
7) Importância do ritual: Embora em menor quantidade que na Capoeira tradicional, continuam
existindo regras não escritas para o correto desempenho do jogo. Há, no
entanto, certos aspectos que poderíamos classificar como ritualísticos que
raras vezes são vistos fora das academias de Angola (como o denominado
"pedida de aú", ou "chamada de Angola"), e também gestos
rituais próprios da Capoeira tradicional que, talvez por desconhecimento, má
interpretação ou, ainda, reinterpretação, são substituídos por outros. Como
exemplo, observamos que está bastante disseminado no Sul o costume de
"pedir a bença do berimbau", que consiste em levar a mão até o
extremo inferior do berimbau e, em seguida, fazer o sinal da cruz, antes de
partir para o jogo. Isto substitui todos os gestos que, no mesmo momento,
realiza o angoleiro, invocando proteção (trazer o signo de Salomão etc.). No
Sul, também, toca-se o chão em frente ao berimbau, imediatamente depois de
concluir o jogo, costume que tampouco se observa na Capoeira tradicional.
8) Teatralidade: Este é o
aspecto que mais se perdeu. O teatral, o pantomínico, na Capoeira, sempre
esteve misturado com o ritual, e sobretudo com a malícia, que o sustenta e lhe
dá sentido. É por malícia que sai da teatralização, enganoso e inesperado, o
ataque certeiro. Reduzida a parte ritual (que só tem importância no início do
jogo e quase não aparece durante este), tirada a ênfase da malícia e valorizada
a luta em si, a teatralização quase desaparece.
As afirmações que fizemos sobre o que acontece com
as características originais só podem ser consideradas como um reflexo das
tendências gerais na prática da Capoeira. Como já mencionamos, esta ainda é uma
atividade que exprime a individualidade de cada Mestre e de cada praticante Por
isso é que não vingaram as tentativas de homogeneização de sua prática.
Essas
características se mantêm, em graus diferentes, nas diversas academias. Mesmo
dentro de cada uma pode haver variações, de indivíduo para indivíduo. Também há
variações de acordo com o
tipo de jogo que se adote (devemos lembrar que há diferentes toques de
berimbau, que correspondem a distintas formas de jogo) e do contexto em que é
realizado (roda fechada, roda aberta, apresentação, torneio etc.).
Há, também, diferenças zonais. Na Bahia, por
exemplo, por ter sido o epicentro do desenvolvimento da Capoeira, sempre
estarão presentes, por mais que se enfatize o aspecto da luta, a malícia e a
teatralização. No Sul, os movimentos
estarão mais próximos das artes marciais e da ginástica.
Academias
"mais tradicionais" e "menos tradicionais"
Se é difícil estabelecer uma classificação rígida das academias, o mais
acertado, então, seria defender a existência de um continuum unindo dois
pólos ideais, entre os quais poderíamos classificá-las ou situá-las de acordo
com a medida em que a Capoeira praticada por elas conserva as características
apontadas por nós como tradicionais. Um esquema parecido é proposto por Ortiz
(1978, p. 88) ao analisar a transformação sofrida pelas religiões
afro-brasileiras, em especial com o surgimento da Umbanda.
Então, existirá um pólo "mais
tradicional", em que a Capoeira praticada conservaria em maior medida as
oito características propostas como típicas da Capoeira tradicional; e outro,
"menos tradicional", em que estas características estariam pouco
presentes (pouca malícia, pouca complementação, ênfase na luta, violência,
movimentos bonitos segundo a estética branca, pouca ritualização e teatralização
etc).
Vimo-nos quase tentados a chamar a um dos pólos de Capoeira Angola e ao outro de
Capoeira Regional. Mas, como só existem raríssimas academias de Angola no
Brasil, e como a Capoeira Regional passou a ser a capoeira neste país,
pareceu-nos mais adequada a nomenclatura finalmente proposta. Fica entendido
que as academias de Angola estariam situadas no extremo "mais
tradicional" da tipologia. Isto não impede que uma academia, por mais que
seja de Regional, embora respeite as características desta, também se aproxime do outro pólo. Por
exemplo, as opiniões de Mestre Atanilo (um dos discípulos mais antigos de
Bimba) sobre a Capoeira atual (Capoeira, 1985, pp. 168-169) poderiam ter sido
subscritas por qualquer angoleiro. Depoimentos recolhidos em Salvador
demonstram também que as práticas de Bimba eram muito mais parecidas com as de
Angola do que as atuais.
Seria interessante verificar, como propõe Ortiz
para sua tipologia (Ortiz, 1968, p. 88), se também não poderia a nossa ser
relacionada com as diferenças de classe existentes na sociedade, ou seja, se as
academias "mais tradicionais" são mais freqüentadas pelas classes
mais populares e as "menos tradicionais" pelas classes médias e,
"na medida em que a linha de classe coincida com a linha de cor"
(Ortiz, 1978, p. 89), verificar se os negros tendem a freqüentar mais o
primeiro tipo de academia. Seguramente, haveria também uma diferenciação
geográfica: as academias da Bahia podem ser situadas mais perto do pólo
"mais tradicional" e as de São Paulo do oposto.
Essa tipologia não pretende ser valorativa,
implicando, de alguma forma, que as academias "menos tradicionais"
sejam piores do que as "tradicionais." É certo, no entanto, que a
Capoeira praticada nas primeiras perdeu várias das características que a configuravam
como forma artística própria de um povo, o afro-brasileiro Este fato se agrava
quando se justifica esta perda como algo natural e necessário para a evolução
desta arte, quando se propõe como "natural" o desenvolvimento da
Capoeira de "luta ingênua", "folclórica," (negra) para
"arte marcial/esporte", "objetiva" (branca). Ao proceder-se
assim, mascara-se a relação assimétrica de poder existente na sociedade e se
justifica (mediante uma ideologia racista e evolucionista) a apropriação da
arte de um grupo étnico por outro e a mutilação e perda da memória e da
identidade desse grupo.
Umbanda e Capoeira regional: dois desenvolvimentos paralelos?
Depois de esboçar um breve panorama do desenvolvimento da Capoeira em
nosso século, e de assinalar os condicionamentos sociais que influíram nesse
desenvolvimento, acreditamos que uma comparação com a evolução das religiões
afro-brasileiras (especialmente com o surgimento da Umbanda) pode ser altamente
instrutiva. Sem tentar equiparar exatamente a Umbanda com a Capoeira Regional,
há certos paralelismos óbvios no desenvolvimento de ambas, demonstrando que as
mesmas forças sociais foram acionadas nos dois casos, principalmente o impulso
para um "embranquecimento" das expressões culturais negras.
Como afirmamos anteriormente, não pretendemos negar
a essas novas manifestações mestiças sua importância ou valor, já que sua ampla
aceitação popular mostra que, além dos interesses de classe que possam ter
causado seu aparecimento (ou ter influído neste), constituem, atualmente,
manifestações autênticas da cultura popular brasileira. No entanto, sustentamos
que têm, efetivamente (ou lhes são conferidas), conotações ideológicas, quando
são utilizadas para monopolizar a legitimidade na área que lhes diz respeito,
ou são apresentadas como meta à qual, inevitavelmente, devem aspirar as
expressões negras que lhes deram origem (por exemplo, quando se clama que a
Umbanda é religião e o Candomblé, ou qualquer variante ortodoxa, é superstição,
ou que a Capoeira Regional é uma arte marcial e a Capoeira mais tradicional
"apenas" folclore).
Nossa análise deverá, forçosamente, ser
superficial, mas acreditamos que pode proporcionar pistas interessantes a serem
aprofundadas em trabalhos posteriores.
As religiões afro-brasileiras, durante o fim do
século passado e parte da metade deste, foram perseguidas e reprimidas pela
polícia. Isto se devia ao fato de que o uso de tambores, as danças, os transes,
os sacrifícios de animais, a ênfase em melhorar a vida dos adeptos através de
meios sobrenaturais (adivinhação, oferendas, trabalhos) eram todos elementos
que caracterizavam a religiosidade africana, mas não coincidiam com a visão
dominante, branca e católica do que deveria ser uma religião. Seus praticantes,
negros e pertencentes às camadas sociais mais baixas, desprovidos de poder
político, não podiam opor argumentos à visão racista que os considerava, junto
com suas manifestações culturais, um estigma do qual a sociedade brasileira
deveria livrar-se para "progredir".
Durante a segunda metade do século passado, o
Espiritismo de Allan Kardec se populariza na sociedade brasileira. Nas classes
baixas, mistura-se com as práticas afro-brasileiras, influindo enormemente
sobre elas. Surge assim a Macumba
carioca, o Candomblé de Caboclos baiano etc. Nas classes médias, impõe-se uma
versão mais ortodoxa do Kardecismo.
Durante meados da década de 20, um grupo de homens
de classe média, brancos, de procedência espírita, insatisfeitos com o que
consideravam uma ênfase desproporcional dada aos aspectos doutrinário e
intelectual por parte do Kardecismo, começam a freqüentar os centros
afro-brasileiros da periferia. Somando à sua bagagem espírita uma ênfase no
utilitário e em diferentes aspectos do colorido ritual desses centros, criam
uma nova religião que denominam Umbanda (Brown, 1977, p. 33). Esta
"Umbanda Branca,", ou "Pura", como é apresentada, elimina
elementos de origem africana desses centros: sacrifícios de animais, oferendas
materiais, tambores, danças. Estes aspectos, aos quais consideravam "primitivos",
chocavam-se com seus valores de classe média.
Esse grupo, a partir de uma casa mãe, começa
a fundar outros centros e, em 1939, cria a primeira Federação de Umbanda, com o
objetivo de proteger seus filiados contra a perseguição da polícia. Em 1941,
realizam o Primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda, no qual propuseram-se
a codificar o ritual e a ideologia umbandistas e deram sua versão da origem da
mesma, remontando às antigas civilizações da índia ou do Egito (e não da
África, porque, aqui, na opinião deles, os grupos só possuíam uma cultura
"rudimentar") (Brown, 1977, p. 34).
Essa religião, já "brasileira" e
expurgada do "afro", durante certo tempo vê-se restrita,
majoritariamente, a núcleos de classe média.
A queda
do regime de Vargas possibilita uma aceleração da organização e da difusão da
nova religião, através dos meios de comunicação. Multiplicam-se as federações e
os líderes de classe média, com sua Umbanda Branca, conseguem maior prestígio e
legitimidade para a religião. Este fato, além de sua influência ante políticos
locais e a polícia, fazem com que vários centros de menor nível sócio-econômico
e com raízes africanas mais fortes entrem em sua esfera de influência, em troca
de favores políticos. Por sua vez, os líderes dessas federações de classe média
têm de flexibilizar um pouco sua definição de religião, para permitir o
ingresso destes centros de classe baixa que, por seu grande número, formavam
uma clientela política notável. Para finalidades da década de 50, políticos umbandistas conquistam cargos de vereadores e
também de deputados estaduais.
Na década de 60, esses líderes umbandistas de
classe média já haviam obtido "uma posição de considerável influência
sobre o crescimento da Umbanda no Rio (...) dominavam a apresentação da Umbanda
ao público em geral e o processo de sua legitimação e institucionalização
dentro da sociedade brasileira (...)" (Brown, 1977, p. 39). Embora não
conseguissem unificar os rituais e a ideologia de todos os centros do Rio, sua
concepção cresceu por todo o Brasil e teve "um efeito nivelador sobre as
tradições regionais de muitas cidades, influenciando-as na direção de uma
religião nacional mais uniforme" (Brown, 1977, p. 40).
A ditadura militar que se estabelece em 1964 é
benévola com essa nova religião, que considera um possível meio de controle
político. "Os militares, rapidamente, tornam-se muito mais visíveis e
numerosos, como líderes de centros e federações de Umbanda" (Brown, 1985,
p. 35). É sob o governo militar que o registro dos templos passa da jurisdição
policial à civil, a Umbanda é reconhecida como religião no censo oficial e
muitos de seus feriados religiosos são incorporados aos calendários públicos
(Brown, 1985, p. 35).
Assim, a Umbanda, como variante "mais
branca" (Ortiz, 1978) da religiosidade afro-brasileira, acomoda-se bem aos
valores sociais vigentes e é
integrada ao sistema e legitimada. Por esta razão, expande-se nos diferentes
níveis sociais e em todas as áreas geográficas, influindo fortemente, ainda,
nas outras variantes da religião afro, tanto as mais sincréticas (Batuque do
Pará, Pajelança) como as mais ortodoxas (Candomblé da Bahia, Xangô de Recife,
Batuque de Porto Alegre).
Não
existe, porém, uma única Umbanda
apenas. A Umbanda branca, influencia, como dissemos, os centros mais
africanizados, mas não chega a impor completamente sua ideologia e ritual. Por
isso é que, a partir de Ortiz (1978), reconhece-se, em geral, que se pode
agrupar os templos de Umbanda ao longo de um continuum que vai desde os "menos ocidentalizados" (os que conservam
vários traços africanos, como tambores, sacrifícios etc.) até os "mais
ocidentalizados", que prescindem desses elementos e adotam uma prática
mais parecida com a do espiritismo.
Comparando o desenvolvimento de ambas as expressões
populares (a Umbanda e a em 1972 Capoeira Regional), que paralelismos podem ser estabelecidos?
Em ambos os casos, havia uma manifestação cultural
de origem africana, praticada majoritariamente por setores sociais mais baixos,
nos quais predomina a gente de cor (Capoeira tradicional, Macumba e Candomblé).
Estas práticas eram estigmatizadas e perseguidas em virtude de sua origem
étnica e social.
Num determinado momento, um grupo de homens das
classes mais acomodadas interessa-se por essas manifestações culturais. Assim,
em meados da década de 20, um grupo de "kardecistas insatisfeitos"
toma elementos dos centros afro-brasileiros e cria a Umbanda. Em meados da década de 30, Mestre Bimba, negro, cria a Capoeira Regional, a partir
da tradicional.Sua ênfase na luta, em detrimento de outros elementos culturais,
faz com que sua academia passe a ser freqüentada, na maioria, por brancos da
classe média.
Essas novas variantes, purgadas de vários de seus
elementos negros (a Umbanda não utiliza sacrifícios nem tambores; a Capoeira Regional
tira a ênfase do jogo, do ritual e da teatralidade) e praticadas por indivíduos
com maior prestígio e poder social, vão aos poucos legitimando-se
(cria-se a primeira Federação de Umbanda, em 1939, e a academia de Bimba é reconhecida
oficialmente em 1937).
O processo é lento mas, em fins da década de 50, a
Umbanda expande-se para vários outros estados, cria no Rio várias federações e
elege os primeiros políticos umbandistas. A Capoeira ainda
é explorada como "folclore" na Bahia, mas também ganha, como método
de luta, cada vez mais adeptos nas classes médias. Começa a emigração de
capoeiristas que vão ensinar Capoeira Regional em outros estados.
Em fins
da década de 60, a Umbanda expande-se nacionalmente. Sua heterogeneidade ritual
e ideológica não impede que seja praticada em quase todo o Brasil e que
conceitos seus se infiltrem até nas variantes religiosas regionais mais
ortodoxas. O governo militar a favorece como forma de aumentar seu consenso na
população. Por outro lado, a Força Aérea da época fomenta simpósios para
homogeneizar a prática da Capoeira. Realizam-se os primeiros torneios e se
começa a visualizá-la, como esporte. Assim, o governo a reconhece oficialmente
em 1972.
Durante a década de 70 e os anos que se seguiram, a
Umbanda se fez presente no Brasil inteiro e tornou-se "a religião
brasileira". A Capoeira Regional (que, por causa do ínfimo número de
academias que ainda praticam Angola, passou a ser a Capoeira) torna-se a
"arte marcial brasileira" e é praticada no Brasil inteiro. Ambas as
variantes, com as transformações sofridas, tendo sido renegados os elementos negros que inicialmente as caracterizavam, são integradas ao sistema e
legitimadas. O estigma, no entanto, não foi completamente eliminado. Uma
crescente burocracia, através de federações cujos dirigentes são, em geral,
brancos, tenta regulamentar e depurar ainda mais essas variantes. Mas estas, embora modificadas, ainda têm em seus praticantes individuais
grande parte do caráter popular que lhes deu origem e resistem a encaixar-se
nos rígidos moldes que lhes impõe o sistema.
Traduzido do
espanhol por Sonia Coutinho.
NOTAS:
1 - As
academias de Capoeira Angola onde se concentraram nossas observações foram: a
"Academia de João Pequeno de Pastinha: Centro Esportivo de Capoeira Angola",
do Mestre João Pequeno, e o "Grupo de Capoeira Angola Pelourinho",
liderado pelos Mestres Moraes e Cobrinha.
2 - Não estão
incluídas na análise as recentes contribuições de D'Aquino (1983) e Lewis
(1986), já que não as conhecíamos quando escrevemos nosso trabalho. Ambos os
autores realizaram seus trabalhos de campo em Salvador; Lewis, principalmente
nas academias de Capoeira Angola, e D'Aquino, sobretudo nas de Regional. A
partir da semiótica, Lewis (1986) considera a Capoeira como "um teatro de
dominação e liberação da dominação", no qual se expressam pautas de
interação derivadas do período da escravidão. D'Aquino (1983), conceituando a
Capoeira como um sistema simbólico, analisa seus mitos e ideologia e a forma
como estes se expressam durante os jogos. Embora os interesses teóricos
destes autores sejam diferentes dos nossos, os dadosetnográficos que trazem em
nada modificam (pelo contrário, apóiam) a análise aqui apresentada.
Bibliografia
AUMEIRA, Bíra.
(1981), Capoeira: A Brazilian Art Form: 1.ª edição, Palo Alto, Sun Wave.
____. (1986), Capoeira: A Brazilian Art Form. 2.ª
edição, modificada, Berkeley, North Atlantic Books.
AREIAS, Almir
das (1983), O que é Capoeira. São Paulo, Brasiliense.
BROWN, Diana.
(1977), "O Papel Histórico da Classe Média na Umbanda". Religião e Sociedade, 1 (1)/31-32.
____. (1985),
"Uma História da Umbanda no Rio". Cadernos do ISER; n °
18/9-42.
CAPOEIRA,
Nestor. (1981), O Pequeno Manual do Jogador de Capoeira. São
Paulo, Ground.
____. (1985), Galo
já Cantou: Capoeira para Iniciados. Rio de Janeiro, Arte Hoje.
CARNEIRO,
Edison. (1975), "Capoeira". Cadernos do Folclore, n ° 1.
D'AQUINO, Iria.
(1983), Capoeira: Strategies for Status, Power and Identity Tese
de Doutoramento, Departamento de Antropologia da Universidade de- Illinois.
FRIGERIO, Alejandro. (1983), The Search for
Africa: Proustian Nostalgia in.Afro-Brazilian Studies. Tese de Mestrado, Universidade da Califórnia, Los Angeles.
ITAPOAN, Mestre
(Raimundo de Almeida). (1982), Bimba: Perfil do Mestre. Salvador, Centro
Editorial e Didático da UFBA.
KOCHMAN, Thomas. (1981), Black and White Styles
in Conflict. Chicago, University of Chicago Press.
LEWIS, John Lowell. (1986), Semeiotic and Social
Discourse in Brazilian Capoeira. Tese de
Doutoramento, Departamento de Antropologia, Universidade de Washington.
MOURA, Jair.
(1980), "Capoeiragem: Arte e Malandragem”. Cadernos de Cultura, n.º2.
ORTIZ, Renato.
(1978), A Morte Branca do Feiticeiro Negro. Petrópolis, Vozes.
PINATTI, Djanir
e OLIVEIRA SILVA, Gladson de. (1984), Capoeira: A Arte Marcial do
Brasil. 2 vols., São Paulo, Editora Três.
REGO,
Waldeloir. (1968), Capoeira Angola: Ensaio Sócio-Etnográfico. Salvador,
Ed. Itapoã.
SENNA, Carlos.
(1980), "Capoeira, Arte Marcial Brasileira". Cadernos de Cultura, n
° 1.
Assinar:
Postagens (Atom)